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sexta-feira, 12 de março de 2010

BADAMEIROS

BADAMEIROS
(Odair Campos, in FLOR E PEDRA)

adaptado para peça teatral de mesmo nome, dirigida pelo próprio autor


Nos confins das palafitas e das favelas
Com as suas janelas abertas para o submundo
Os ratos passeiam farejando a pobreza, a miséria,
Que se espelha
Nos rostos desesperados em prantos
Dos trastes humanos
Que se arrastam, se alastram,
À espera da promessa do governante
Que muito antes, carente dos votos,
Disse-lhes que as suas vidas iria mudar.
Agora, caminhantes, errantes,
Espalhados por todo p território brasileiro
Com as suas mãos trêmulas, estendidas,
Esmolam desesperadamente
Para as suas vidas preservarem.
Eles são os realces das cidades
Resultados das pervertidas sociedades
São os nossos irmãozinhos badameiros!
Na luta oriunda
Entre mãos e patas,
Homens, urubus e baratas,
Disputam avidamente o petisco do lixo!
É uma cena tipicamente burlesca
Uma verdadeira ironia
Uns, esbanjando saúde, dinheiro, à farta comida.
Outros, dementes, doentes, de barrigas vazias.
Tudo isso é deprimente
E não há quem aguente
Ver sem sentir e chorar.
Tamanha relutância
No auge da ganância
Essas pobres criaturas
Sob as marquises
Seminuas...
Transformadas em verdadeiros bichos!
Querendo um ao outro se devorar.
Nos lamaçais dos mangues
Os pés cansados de andar léguas tiranas
Marcham em busca do sustento
Nem sempre achado
E feridos, bichados,
Vertem dolorosamente o púrpuro sangue.
Eles sabem que lutar é viver!
Mesmo com todo padecer
Não podem se render.
No breu da noite
As esteiras de piaçavas são estendidas
No chão irregular
Sob o majestoso luar
Onde a natureza cândida, toda oferecida,
Suaviza-lhes as suas peles de ébano
Com a doce brisa a soprar.
Não existe sentimento humanitário
Nenhum socorro se apresenta ali.
E, diante de tanta gente,
Deprimida, maltrapilha, carente,
Desesperadas, as almas doentes,
Sobrepõe-se um fio de esperança
No sorriso de uma criança
Que mesmo fraca,
Debilitada, não amamentada,
Com os seus olhinhos profundos
Envolta nos cueiros imundos
Lá do seu berçário
Ainda encontra forças para sorrir!

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo poema. Parabéns, voçê é um grande artista!

by: Raul